Sede: Escola de Belas Artes da UFMG.
Coordenação: Prof. Dr. Antonio Hildebrando
Co-coordenação: Prof. Ms. Eduardo dos Santos Andrade

sábado, 26 de março de 2011

As Grandes Dionisíacas

Os preparativos dos concursos dramáticos eram responsabilidade do arconte, que decidia tanto as questões artísticas quanto as organizacionais. Ele indicava a cada poeta um corega, algum cidadão ateniense rico que pudesse financiar um espetáculo, cobrindo não apenas os custos de ensaiar e vestir o coro, mas também os honorários do diretor do coro (corus didascalus) e os custos com a manutenção de todos os envolvidos. (BERTHOLD, 2001, p. 113).


Ao entrar no auditório, cada espectador recebia um pequeno ingresso de metal (symbolon), com o número do assento gravado. Não precisava pagar nada. Péricles havia assegurado com isso o favor do povo, ao fazer com que o erário não só remunerasse a participação nos tribunais e nas assembleias populares, como também a frequência nos espetáculos teatrais. Nas fileiras mais baixas, logo na frente, lugares de honra (proedria) esperavam o sacerdote de Dioniso, as autoridades e convidados especiais. Aqui também ficavam os juízes, os coregas e os autores. Uma seção separada era reservada aos homens jovens (efebos), e as mulheres sentavam-se nas fileiras mais acima.

Vestido com o branco ritual, o público chegava em grande número às primeiras horas da manhã e começava a ocupar as fileiras semiciraculares, terraceadas, do teatro. “Um enxame branco”, é como o chama Ésquilo. Ao lado dos cidadãos lives, também era permitida a presença de escravos, na medida em que seus amos lhes dessem licença. A aprovação era indicada por estrepitosas salvas de palmas, e o desagrado, por batidas com os pés ou assobios. A liberdade de expressar sua opinião foi algo que o antigo frequentador de teatro fez uso amplo e irrestrito, considerando a si próprio, desde o mais remoto início, um dos elementos criativos do teatro. Ortega y Gasset lembra:

Não podemos nos esquecer de que a tragédia antiga em Atenas era uma ação ritual e, por essa razão, acontecia não tanto no palco quanto na mente das pessoas. O teatro e o público eram circundados por uma atmosfera extrapoética, a religião.


A condiçãonecessária para essa experiência comunitária era a magnífica acústica do teatro ao ar livre da Antiguidade. O menor sussurro era levado aos assentos mais distantes. Por sua vez, a máscara – geralmente feita de linho revestido de estuque, prensada em moldes de terracota – amplificava o poder da voz, conferindo tanto ao rosto como às palavras um efeito distanciador. Graças ao poder das palavras, não importava se o cenário parecesse pequeno – por exemplo, as rochas às quais Prometeu era acorrentado. O plano visual era menos importante do que a moldura humana para os sofrimentos do herói: o coro, que participava dos acontecimentos como comentador, informante, conselheiro e observador. (BERTHOLD, 2001, p. 114)

Ao lado das possibilidades de “mascarar” a skene e de introduzir acessórios móveis como os carros (para exposição e batalha), os cenógrafos tinham à sua disposição os chamados “degraus de Caronte”, uma escadaria subterrânea que levava à skene, facilitando as aparições vindas do mundo inferior de Caronte. (BERTHOLD, 2001, p. 114)





Os mechanopoioi, ou técnicos, eram responsáveis por efeitos como o barulho de trovões, tumultos ou terremotos, produzidos pelo rolar de pedras em tambores de metal ou madeira. 
(BERTHOLD, 2001, p. 117)

Uma troca de máscaras e figurino dava aos três locutores individuais a possibilidade de interpretar vários papéis na mesma praça. Podiam ser um general, um mensageiro, uma deusa, rainha ou uma ninfa do oceano – e o eram, graças à magia da máscara.(BERTHOLD, 2001, p. 117)

Foi Ésquilo quem introduziu as máscaras de planos largos e solenes. A impressão heróica era intensificada pelo toucado alt, de forma triangular (onkos), sobre a testa. O traje do ator trágico consistia geralmente no quíton – túnica jônica ou dórica, usada na Grécia antiga – e um manto, e do caracterísitico cothurnus, uma bota alta com cadarço e sola grossa.  (BERTHOLD, 2001, p. 117)

Com Sófocles, a qualidade arcaica, linear, da máscara começou a suavizar-se. Os olhos e a boca, bem como a cor e a estrutura da peruca eram usados para indicar a idade e o tipo da personagem representada. Com a maior individualização das máscaras, Eurípedes exigia, também, contrastes impactantes entre vestimentas e ambientes. “Seus reis andam em farrapos”, apenas para tocar a corda sensível do povo, zombava Aristófanes, seu implacável adversário. (BERTHOLD, 2001, p. 117)

Eciclema, uma pequena plataforma rolante e quase sempre elevada, sobre a qual um cenário era movido desde as portas de uma casa ou palácio. O eciclema traz à vista todas as atrocidades que foram perpretadas por trás da cena: o assassinato de uma mãe, irmão ou criança. Exibe o sangue, o terro e o desespero de um mundo despedaçado, como na Orestíada, em AgamenonHipólito e em Medéia. (BERTHOLD, 2001, p. 117)