Sede: Escola de Belas Artes da UFMG.
Coordenação: Prof. Dr. Antonio Hildebrando
Co-coordenação: Prof. Ms. Eduardo dos Santos Andrade

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mais uma dia, mais uma peça pra se apaixonar

Audácia! Diria um incauto ante a proposta da peça A viagem de Thespis. E de fato trata-se de empreitada difícil, afinal, resumir, condensar milênios em uma hora e meia não é tarefa fácil. Contudo, nessa viagem pelos tempos, visita às origens da sutil arte de encenar, há audácia sim, mas há também perspicácia, maturidade e, sobretudo, sensibilidade. Mexe-se no passado, revira-se os séculos sem pudor algum, mas não gratuitamente; cada gesto é calculado, cada passo medido, tudo ao fim redimensionado e o que eram fragmentos de “coisas velhas” convergem para um todo inegavelmente novo e coeso. Das Helenas ao adeus dos artistas o que se vê é um trabalho minucioso de remontagem; peça a peça (com o perdão do trocadilho) vai surgindo aos olhos maravilhados do espectador o intricado mosaico que é o teatro, e tal homenagem faz-se bela. Mas se há um movimento no sentido da unidade, há outro que só faz desmontar. Desmonta-se as estruturas teatrais, o olhar do ator volta-se sobre si mesmo; o público se perde, pois também ele é deslocado, tem ainda sua atenção exigida de todos os lados; em suma, tudo é questionado até chegar-se a um consenso, que parece ser o de não haver limites. E não há mesmo a possibilidade de se apreender A Viagem de Thespis por completo, a cada espetáculo o público captura novos detalhes, assiste a uma peça nova, faz uma nova peça. Evoé teatro!

Diego Ferreira