Sede: Escola de Belas Artes da UFMG.
Coordenação: Prof. Dr. Antonio Hildebrando
Co-coordenação: Prof. Ms. Eduardo dos Santos Andrade

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tragédia

Do Culto ao Teatro

Com cantos ritmados, o coro rodeava a orchestra: “Vem, ó Musa, unir-se ao coro sagrado Deixa nosso cântico agradar-te e vê a multidão aqui sentada!” Estes hinos em forma de verso são de As Rãs, de Aristófanes. Precisamente ele, o “zombador incorrigível”, invocou novamente, em sua última comédia, o poder da tragédia grega clássica, cuja idade de ouro durou aproximadamente um século. (BERTHOLD, 2001, p.104)

“quando seu apetite e sede estavam satisfeitos, a Musa inspirava o bardo a cantara os feitos de homens famosos” (Odisséia, VII. Homero) (BERTHOLD, 2001, p.104)

Duas correntes foram combinadas, dando à luz a tragédia (...) os coros de cantores com máscaras de bode. (BERTHOLD, 2001, p. 104)

Dioniso, a encarnação da embriaguez e do arrebatamento, é o espírito selvagem do contraste, a contradição extática da bem-aventurança e do horror. Ele é a fonte da sensualidade e da crueldade, da vida procriadora e da destruição letal. Essa dupla natureza do deus, um atributo mitológico, encontrou expressão fundamental na tragédia grega. (BERTHOLD, 2001, p.104)

Arion de Lesbos organizou os bodes dançarinos dos coros de sátiros para um acompanhamento mimético de seus ditirambos. Assim, ele encontrou uma forma de arte que, originada na poesia, incorporou o canto e dança, e que duas gerações mais tarde levou, em Atenas, à tragédia e ao teatro. (BERTHOLD, 2001, p.104)

Em março do ano 534 a.C., trouxe de Icária para Atenas o ator Téspis. (...) Téspis teve uma nova e criativa ideia que faria história. Criou o papel do hypokrites (“respondedor” e, mais tarde, ator). Essa inovação se desenvolveria mais tarde na tragédia, etimologicamente, tragos (“bode”) e ode (“canto”). (BERTHOLD, 2001, p. 104-105)



Téspis oferecia apresentações de ditirambos e danças de sátiros no estilo de Arion. Supõe- se que viajasse numa carroça de quatro rodas, o “carro de Téspis” mas esta é apenas uma das inerradicáveis e graciosas ilusões que o uso linguístico perpetuou. O culpado nesse caso foi Horácio, que nos conta que Téspis “levava seus poemas num carro”. Mas essa informação diz respeito apenas à sua participação na Dionisíaca, e não a algo como uma carroça-palco ambulante. O ritual da dança coral e do teatro era precedido por uma procissão solene, que vinha da cidade, e terminava na orquestra, dentro do recinto sagrado de Dionísio. O clímax dessa procissão era o carro festivo do deus puxado por dois sátiros, uma espécie de barca sobre rodas (carrus navalis), que carregava a imagem do deus ou, em seu lugar, um ator coroado de folhas de videira. O carro-barca recorda as aventuras marítimas do deus, pois, de acordo com o mito, Dioniso, quando criança, fora depositado na praia pelas ondas do mar, dentro de uma arca. Enquanto elemento procriador que abriga o mistério primordial da vida, a água sempre foi um ingrediente importante dos cultos de qualquer povo; são testemunhos disso o culto de Osíris do antigo Egito, o Moisés bíblico e o pescador divino da dança kagura japonesa. (BERTHOLD, 2001, p.105)

Entre a primeira apresentação de Téspis e o primeiro êxito teatral de Ésquilo passaram-se sessenta anos. (BERTHOLD, 2001, p. 105)

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro.São Paulo: Perspectiva, 2001.