Dos cento e vinte e três dramas que [Sófocles] escreveu, e que até o século II a.C., ainda se conservavam na Biblioteca de Alexandria, conhecemos cento e onze títulos, mas apenas sete tragédias e os restos de uma sátira chegaram até nós. (BERTHOLD, 2001, p. 109)
Foi da natureza inalterável do conceito de destino sofocliano que Aristóteles derivou a sua famosa definição de tragédia, cuja interpretação tem sido debatida ao longo dos séculos. O crítico e dramaturgo alemão Lessing a entende como a purificação das paixões pelo medo e pela compaixão, ao passo que atualmente é interpretado por Wolfgang Schadewaldt, um estudioso contemporâneo, como “o alívio prazeroso do horror e da aflição”. Na qualidade de peça cultural, como toda tragédia genuína o é, ela também não é feita para melhorar, purificar ou educar.
Schadewaldt escreve:
A tragédia comove profundamente o coração, já que o faz transcender (pelo deleite primevo com o horrível – semblante de toda verdade – e com a lamentação) até o prazer catártico da libertação aliviadora. Tendo a sua essência inteiramente orientada para o outro objetivo, a tragédia logra, por isso mesmo, atingir eventualmente por comoção o âmago de uma pessoa, que poderá sair transformada deste contato com a verdade do real.
(BERTHOLD, 2001, p. 109)